Apresentação

A palavra “doença” tem origem no latim dolentia, que significa “dor, padecimento”. O significado mais simples e original de doença remete à sintomatologia dolorosa. A dor modifica o estado psíquico, altera o foco do indivíduo para suas atividades normais e, na Odontologia, é inquestionavelmente o fator que mais direciona o paciente a procurar o cirurgião- -dentista. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), doença é um conjunto de sinais e sintomas específicos que afetam um ser vivo, alterando seu estado normal de saúde. Da mesma maneira, a OMS define como saúde um estado de bem-estar físico, mental, espiritual e social, e não somente a ausência de afecções e enfermidades. Sendo assim, a Hipersensibilidade Dentinária é uma doença fortemente modulada pelo estilo de vida contemporâneo e por fatores sistêmicos. Esta doença afeta o bem-estar psicossocial e físico, pois, além da dor provocada durante a rotina profissional e pessoal, dificulta a ingestão de líquidos, a alimentação e impacta diretamente na nutrição do indivíduo. O número de pacientes com hipersensibilidade dentinária aumenta catastroficamente, ano após ano, em todo o mundo. A incidência desta doença bate recordes nas faixas etárias mais jovens. A maioria dos cursos de Graduação de Odontologia no Brasil e no mundo, infelizmente, ainda classifica a hipersensibilidade dentinária como uma sequela ou consequência de algo. As futuras gerações de cirurgiões-dentistas não estão sendo preparadas para diagnosticar e evitar esta doença. Muitos ainda acreditam que a causa de hipersensibilidade dentinária é, simplesmente, a exposição de dentina. Esta crença, fundamentalmente equivocada, transmitida entre gerações de clínicos, professores, formadores de opinião e pesquisadores, é propagada pela indústria da “terapia caseira” de controle da dor. Bilhões de dólares foram, e serão, investidos em tecnologias e marketing para levar o indivíduo com hipersensibilidade dentinária a procurar uma farmácia, e não um profissional capacitado para tratar a doença. A pergunta é: o profissional está realmente capacitado para diagnosticar, evitar, controlar e tratar esta doença? Uma reflexão: será que a indústria enxergou o número crescente de indivíduos com a doença e percebeu que a maioria dos profissionais e instituições de ensino considera doenças bucais apenas os processos inflamatórios, como gengivite/periodontite/pulpite, e doenças de origem bacterianas, como a cárie, e então decidiu investir em produtos que mascaram a dor? Ora, se não há profissionais capacitados, deve-se colaborar, de algum modo, com a saúde bucal do indivíduo.

Os autores deste livro não acreditam que o controle ou a remoção da dor significa, necessariamente, tratamento. Sendo assim, ausência de dor não significa, necessariamente, saúde. Este livro foi escrito por um time de pesquisadores e profissionais que atua no dia a dia da clínica odontológica. O grupo de pesquisa LCNC, liderado pelos autores principais do livro, foi fundado em 2008 na Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Uberlândia, publicando livros, capítulos e artigos sobre as doenças bucais mais incidentes da nossa geração: Hipersensibilidade Dentinária, Lesões Cervicais não Cariosas e Recessão Gengival. Nos últimos anos, este grupo tem proposto mudanças profundas no processo de ensino, diagnóstico e abordagens clínicas para prevenção e tratamento destas doenças. É fato que mudanças são necessárias, sob a luz das evidências científicas e com o apoio de toda a comunidade odontológica: instituições de ensino e pesquisa, indústria, formadores de opinião, professores e profissionais que vivem a rotina clínica. Questionar e revisar conceitos e protocolos antigos e não comprovados são necessários. Este livro resume mais de uma década de pesquisas e estudos dedicados à Hipersensibilidade Dentinária. É uma sequência do livro Lesões Cervicais Não Cariosas e Hipersensibilidade Dentinária: Etiologia, Diagnóstico e Tratamento, escrito por Soares PV, Grippo JO et al. em 2017 e publicado pela Quintessence Editora. Novas tecnologias e abordagens clínicas estão descritas em 5 capítulos, com a colaboração de diversos professores e formadores de opinião. Caro leitor, você também é responsável pela mudança de paradigmas. Somos a geração que impactará na real mudança da história dessa doença, em prol da saúde bucal do indivíduo, a favor da melhoria do processo de ensino e contra a terceirização do controle da dor. Desejamos a você uma ótima leitura e sucesso nas ações de prevenção e tratamento da hipersensibilidade dentinária.

Cordialmente,

Paulo V. Soares

Alexandre C. Machado

Sumário

Capítulo 1. Odontologia Contemporânea e Fatores Relacionados à Hipersensibilidade Dentinária

Capítulo 2. Dor e Teorias da Hipersensibilidade Dentinária

Capítulo 3. Prevenção, Controle dos Fatores Etiológicos e Grupos de Risco para Hipersensibilidade Dentinária

Capítulo 4. Métodos de Diagnóstico e Tratamento para Hipersensibilidade Dentinária

Capítulo 5. Protocolos de Tratamento da Hipersensibilidade Dentinária

 • Caso Clínico 1 Paciente com DRGE e Dieta Ácida – Protocolo intensivo de sessão única

 • Caso Clínico 2 Paciente Pós-ortodôntico e com Interferência Oclusal – Protocolo de sessões múltiplas

 • Caso Clínico 3 Paciente em Tratamento Ortodôntico e Dieta Ácida – Protocolo intensivo de sessão única

 • Caso Clínico 4 Paciente com Doença do Refluxo Gastroesofágico, Dieta Ácida e Interferências Oclusais – Protocolo de sessões múltiplas

 • Caso Clínico 5 Paciente Pós-ortodôntico com Interferências Oclusais – Protocolo de sessões múltiplas

 • Caso Clínico 6 Paciente com Dieta Ácida e Interferência Oclusal – Protocolo de sessões múltiplas

 • Caso Clínico 7: Paciente sem Evidências Claras dos Fatores Etiológicos Predominantes – Protocolo de sessões múltiplas

 • Caso Clínico 8: Paciente Adolescente com Hábitos Alimentares Ácidos e DRGE – Protocolo de sessões múltiplas

 • Caso Clínico 9 Paciente com Hábitos Parafuncionais – Protocolo de sessões múltiplas

 • Caso Clínico 10 Paciente Pós-ortodôntico com Interferência Oclusal – Protocolo de sessões múltiplas

 • Caso Clínico 11 Paciente Pós-ortodôntico – Protocolo intensivo de sessão única

 • Caso Clínico 12 Paciente com Refluxo Gastroesofágico – Protocolo intensivo de sessão única

 • Caso Clínico 13 Paciente com Parafunção e Interferência Oclusal – Protocolo intensivo de sessão única

 • Caso Clínico 14 Paciente Pós-ortodôntico, Atleta, com Dieta Ácida e Interferência Oclusal – Protocolo intensivo de sessão única

 • Caso Clínico 15 Cirurgia Periodontal para Manejo da Hipersensibilidade Dentinária em Paciente com Parafunção

 • Caso Clínico 16 Cirurgia Periodontal para Manejo da Hipersensibilidade Dentinária em Paciente com Parafunção e Escovação com Força Excessiva e Cerdas Duras

 • Caso Clínico 17 Cirurgia Periodontal para Manejo da Hipersensibilidade Dentinária com Interferência Oclusal

 • Caso Clínico 18 Cirurgia Periodontal para Manejo da Hipersensibilidade Dentinária em Paciente com Apertamento Dentário e Escovação com Força Excessiva e Cerdas Duras

 • Caso Clínico 19 Procedimento Restaurador Adesivo para Manejo da Hipersensibilidade Dentinária – LCNC rasa

 • Caso Clínico 20 Procedimento Restaurador Adesivo para Manejo da Hipersensibilidade Dentinária – LCNC profunda

 • Caso Clínico 21 Procedimento Restaurador Adesivo para Manejo de Hipersensibilidade Dentinária

 • Caso Clínico 22 Paciente Pós-ortodôntico – Protocolo intensivo de sessão única prévio ao clareamento dentário

 • Caso Clínico 23 Plástica Oclusal para Manejo de Paciente com HD